Fazendo as malas. Decido levar apenas o necessário. Aquilo que faz de mim um ser complexo. Um ser completo. Levo, ali dentro do zíper superior, um medo antigo e aquele grito de socorro nunca atendido. Mas antes que o peito aperte, lembro-me de que também dobrei e passei toda a minha coragem e determinação, sabendo que posso contar com essa minha criatividade e sabedoria para entender e lidar com qualquer imprevisto que me cruzar o caminho.
Coloco, ali do lado dos óculos escuros, todo o meu desejo de explorar este mundo e sorrir vendo o pôr do sol em alguma praia do litoral, depois de me deliciar com esse meu lado divertido e leve de encantar-me por tudo. Porém, recordo que levo junto a toalha de banho, toda aquela insegurança de ser esquecida e deixada de lado, que vez em quando visita e abre algumas feridas. Mas num súbito momento de lucidez, lembro-me de que também levo comigo esse meu lado carinhoso, paciente e amoroso, que tem o dom e a compreensão de docilmente acolher essa ansiedade que às vezes me bate.
Ah, não posso esquecer que em algum canto coloquei toda a frustração e a raiva que, por ser humano, ainda me afetam. Mas nem me preocupo, já que ali, perto da jardineira jeans, levo esse meu coração bondoso e cauteloso. Assim, sinto-me segura e acolhida, e todo medo de ser ferida encontra aconchego atrás da escova de cabelo.
Não esqueço que, dentro daquela mala gasta de zíper duplo, há espaço para todos os meus itens. Mesmo aqueles que não acho que devo ou preciso, levo comigo. E, se preciso for, levo na pochete para dar uma volta. Afinal, às vezes, é só isso que importa.
Leave a Reply